sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Ela dizia todo tempo como ser forte. Sabia a receita e os ingredientes. Não esquecia nada. Contava os minutos de aquecimento e de descanso, e sempre sabia o ponto. Tinha propriedade na fala. Como quem não sabe ser nada, além disso. Falava por horas. Vislumbrava o céu, contava estrelas, apontava a lua e abria a janela pra ver o céu sobre aquelas ideias. Fechava os olhos, gesticulava e mordia os lábios como quem sente a palavra. Ela sabia do gosto doce e amargo, do néctar e do ranço, do insosso. E talvez por isso ela experimentasse aquele silêncio como ritual de degustação de suas dores, seus amores, seus encantos e espantos. E não por outra razão ela parecia mais forte. Mas ela não sabia de onde vinha aquilo. Era intensa apenas. Deixava-se contornar sem rustificar seus traços. Ela não sabia da sua força, mas permitia-se desnudar-se do medo de ser frágil. Suportava o peso das consequências com peito de aço, mas desmoronava naqueles ombros como quem perdera o chão, e revestia-se de inocência como quem não tem medo de deixar uma fileira de formigas como pista de sua doçura. E cantarolava músicas que não existia, como quem ritma o silêncio para que se sinta ali. E segurava aquelas mãos como talismã. E não largava por nada, mesmo suadas. E ficava ali. Observando o espaço, e pausando o tempo no abraço. Ela não era fonte de força. Mas também não era farsa. Era falha. Folha, em branco, rabiscada, colorida, acinzentada. E sentia falta de chão às vezes, perdia a cabeça também, chorava escondida de noite ou de dia, e tropeçava na fragilidade que deixara no meio da sala...Mas estava ali, embora frágil, ela estava ali como quem se permite ser retrato sem medo de olhares demorados. Como quem se permite ser um livro com sublinhados e orelhas dobradas. Como quem se permite estar ali e não lá, simplesmente porque lá não estariam juntos. E isso tudo não seria assim.

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