"O Amor pede carona"

Nem bem o sol tinha nascido, Camila já estava acordada e pronta para ir ao colégio. Olhava-se no espelho, tinha um rosto de menina e tentava disfarçar essa meninice com um batom mais escuro.
- Não adianta, fico feia do mesmo jeito. O Robson nunca vai olhar pra mim  - dizia Camila.
Robson era o cara mais paquerado da escola, Camila estava apaixonada por ele havia um tempão, mas nunca consegui dizer isso, aliás, não falava pra ninguém, nem mesmo para a sua melhor amiga Giovana, que era prima de Robson.
Ela continuava em frente ao espelho se olhando e dizendo:
- Sou muito sem graça. Queria ser como a Karina. Ela sim é bonita. Não é a toa que Robson gosta tanto dela.
Ninguém da escola sabia se era mesmo verdade o lance entre Robson e Karina, mas Camila tinha certeza que era.
- Camilaaaaaaaa! - gritou sua mãe -Você não vai a escola hoje, menina?
A garota levou um susto e respondeu um "sim, ja vou" com vontade de dizer "não, nunca mais". Já estava ficando insuportável conviver com Robson, amando-o tanto, sem ao menos receber um olhar dele.
E eram assim os dias. Camila amava, mas não se declarava. A amiga Giovana ofereceu ajuda, mesmo sem saber quem era o seu amor, e ela recusou:
- Marcar um encontro com ele? Você está ficando louca, Giovana. Ele vai rir da minha cara!
A amiga respeitou, afinal ela devia saber o que estava fazendo.
Vários meses tinham se passado, a 8º série já estava acabando, e tudo continuava do memso jeito. Camila sonhava com Robson, que não saia de sua cabeça, e o medo de se declara também não. Chegou o dia da festa de despedida. Robson entrou de mãos dadas com Karina. Estaria ali a confirmação do que Camila sempre desconfiou. Nem conseguiu chorar. Para ela não houve festa.
Veiram as férias e Camila sabia que só veria Robson mais uma vez, no dia da formatura. Os dois iam mudar de escola e não voltariam a se ver.
Chegou o dia da colação. Era fevereiro e as aulas da nova escola de Camila já tinham começado. Ela havia conhecido muita gente legal, já tinha novos amigos, novas paqueras. Tudo isso fez com que pensasse ter esquecido o seu amor, mas não era verdade.
Ele chegou ao salão muito alegre e estava somente com sua familia. Aproximou-se de Camila sorrindo. Robson estava mais lindo do que nunca. Ela o cumprimentou meio sem graça e saiu correndo. Ele sorriu pra mim! Calma, Camila! - dizia para si mesma - Foi só um oi. Lembre-se que você já esqueceu esse cara.
Como foi tola. Perdeu a ultima oportunidade de ter Robson ao seu lado. Apesar de tudo, Camila levava normalmente sua vida. Nunca mais havia visto Robson, mas já tinha se conformado. Ela terminou o colegial, prestou vestibular para arquitetura e entrou numa faculdade no interior. Nesse tempo todo, não se apaixonou por ninguem, pois tinha medo de que acontecesse tudo de novo.
Num feriado, passados cinco anos da colação  da 8º série, Camila voltava pra casa de seus pais no carro que ganhara de aniversario. De repente, um rapaz, também estudante, pediu carona.
Camila parou, ele se aproximou e então  a garota o reconheceu:
- Você, Robson? Há quanto tempo!
Eles se cumprimentaram e seguiram, contando um pouco da faculdade. Foi ai que Robson percebeu que tinha chegado a oportunidade de esclarecer tudo o que sentia, e contou a Camila que sempre soube que ela o amava. Surpresa, ela disse:
- Mas como? Eu nunca disse a ninguém!
- Eu sentia isso em seus olhos. O que você não sabe é que eu sempre a amei também - confessou.
Camila não podia acreditar no que estava ouvindo, e perguntou decidida:
- E a Karina? Voc~e não estava com ela naquela época?
- Nós ficamos juntos só naquele dia da festa de despedida. Foi um plano nosso pra ver se você chegava em mim. Mas deu tudo errado. No dia da colação, tentei falar com você, mas parecia que não gostava mais de mim - disse ele.
Camila percebeu como tinha errado e que não podia cometer o mesmo erro. Parou o carro. Não pode conter o desejo de cair nos braços de Robson. Eles se abraçaram e se beijaram. Era o primeiro toque de um amor que agora podia existir de verdade.
Olharam-se profundamente como se fossem entrar um no outro. Estavam enfim juntos, como sempre quiseram.

PS: Esse texto foi escrito em 1994 em um diário meu. Eu o adoro! Hoje o achei e resolvi postar aqui pra vocês!