quarta-feira, 1 de dezembro de 2010



Inesperadamente.
Repentinamente.
Delicadamente.
Silenciosamente.


Foi assim que a morte deu vida a essa dor. Foi assim que a vida de minha mãe abreviou-se a despedida.
Hoje já fazem 2 meses. Uma eternidade abreviada de aprendizado sem você. De tempo que não mais uso para partilhar ao seu lado. De tempo que não tive a chance de te abraçar, te beijar, acariciar seus cabelos, de correr ao teu colo e se fazer menina para roubar-lhe um, dois, ou três beijos. Agora não te tenho mais aqui, ao meu lado.
E isso dói. Dói porque não aprendi a viver sem vc. Não aprendi a chorar sem seu consolo. Não aprendi a andar sem que você me indicasse a direção. Não aprendi a sorrir sem partilhar nosso riso juntas. E não sei ainda, mãe, como será tudo isso.
Não sei como vai ser sentir suas lembranças nos cantos e recantos. Mas vai ser dolorido.
Não sei como dar conta dessa vida que não é só minha, mas um tanto sua. Agora eu já não sei como chorar nem como sorrir. E não porque não tenhas me ensinado, mas porque a sua fortaleza me encorajava. Me edificava e me fazia melhor.
O meu melhor sem vc, se torna medíocre.
A minha força sem vc, agora é pequenina.
Meu olhar sem vc, agora é sem brilho, sem graça...
Porque minha mãe, rio de fortaleza, soube fluir bem na família e na comunidade. Soube alagar os passos pra driblar as dificuldades, soube renunciar para garantir nossa felicidade, soube ser humilde em todo sempre.
Sim. Minha mãe vc foi grande.
Você foi fiel nas grandes e nas pequenas coisas.
Foi esposa companheira.
Filha exemplar.
Amiga incondicional.
Ser humano especial.
Catolica renovada.
Soube ser mãe como quem não sabe ser outra coisa tão divinamente. Amou mais do que pôde, que extravasou quaisquer limites, se e que eles existem.
E é por isso. Que neste dia. Parece não haver palavras dignas para tanto.
Foi um tanto rápido. Surpreendente. E eu que nunca pensei em viver sem vc, continuo sem pensar. Porque, na verdade, não quero ficar longe de tvc mãe, acho que a vida ficaria mais dura do que ela é. É duro ter que aceitar, ter que despedir, ter que chorar e não te ver por aqui.
E esse aperto aqui dentro? Sem minha mãe pra acalmar?
E essa vontade de desistir, sem minha mãe pra me incetivar?
E esse lamento?
E essa loucura de querer chegar e te ver de longe na porta de casa, com um  sorriso e um abraço escancarado pra dizer que chegando em casa nada de ruim me atingiria. Que chegando em casa nos seus braços estaria segura. Que chegando em casa os sonhos eram possíveis, a dor tranqüila e a vida mais feliz...
E os meus sonhos? E meus planos? E meu dia a dia? Como será?
Não. Eu não queria sentir essa dor de jeito nenhum. Mas talvez, por estar acostumadoa como você, ela se torne mais doída ainda, porque não me acostumo a chorar sem ter você do meu lado para aparar minhas lágrimas.
Não tive tempo bastante para chorar o medo de sentir essa dor. E mesmo se tivesse tido, não seria suficiente. Mas se posso nesse momento recordar, resumidamente o tempo que viveu comigo, recordo da mãe que arrumava  a filha com vestidos ipara ir ao colégio. Da mãe que, ao lado do pai, sacrificou-se pra dar do bom e do melhor. Da mãe que nunca se ausentou. Que na pré-escola ou mesmo no ensino médio, adorava reuniões de pais e mestres, da mãe que adorava ir me ver dançar...
Da mãe que pegou em minhas mãos pra me levar pra escola, pra missa, pra academia, pra todo canto... da mãe que ao lado do pai, renunciou seus caprichos, se é que os tinha, pra não deixar que nada faltasse, pra dizer que estava ali, pra dizer que podia contar sempre.
Não. Eu não quero acreditar quando o poeta diz que o sempre, sempre acaba. Acreditar nisso agora é a coisa mais dura que eu poderia experimentar. E isso me dói.
Recordo ainda da mãe que, ao lado do pai, juntava trocados suados pra comprar uma roupa melhor pro Natal, pra festa de junho, pro material escolar, pro sorvete.
Lembro da mãe que, levantava varias vezes na noite, ate um dia desses pra ver o meu sono. Pra ver a quietude do sono de uma menina, que mesmo aos trinta e poucos anos, acordava chorando algumas vezes. Da mãe que não dormia antes que a sua filha chegasse em casa.
Lembro da mãe que sentava comigo pra jogar conversa fora. Da mãe amiga, que falava trabalho, de festas, de namoro, da mãe que na maioria das vezes, se tornava a melhor amiga de minhas amigas.
Lembro da mãe que não tinha outros sonhos, senão, os meus.
Lembro da mãe apaixonada. Do zelo interminável. Da paixão sempre viva. Do amor que dedicava ao casamento. Das renuncias. Das juras de amor... e dos beijos encabulados que eu via... mas achava tão bonito.
E agora, já não seria preciso dizer mais nada, a não ser do amor que tenho, e da fé, que embora fraca, me ajudará a entender tudo isso.
Lembro da mãe que, ao lado do pai, fez de todo um coração pra dizer que não havia dificuldade que não pudesse ser vencida. Da mãe que me incentivou a ser quem sou. A querer ser quem sou. E a gostar de ser quem sou.
E agora, eu só queria ter lido pra vc esse texto antes que eu tivesse  colocado aqui pra todo mundo. Como eu fazia com minhas matérias, minhas mensagens, minhas poesias... como eu fazia com essas coisas minhas, que também eram suas. Porque não sei se haverá nessa vida alguém que me incentive tanto como vc fez, alguém que cuide tanto de mim como vc fez, alguém que queira tanto o meu bem, como vc sempre quis. Não. Não haverá. Mas se não  me tornar um ser humano melhor a cada dia, renegarei tanto o ensinamento que ela me passou...
Faça-me sentir o seu amor ainda aqui comigo, para que seja menos doída a minha vida. e a do meu pai.  E pelo meu  pai quero que olhes, como sempre, quero que zeles como sempre, que esteja ao lado dele como sempre... e que o amor seja imortal... como nos ensinou sempre.
A gente chora agora. Talvez amanhã também... e depois... e depois... Mas queremos contar com sua lembrança sempre, para que não nos sintamos sozinhos.
Sim, esta doendo. E essa dor é tão grande que já não tenho palavras pra expressar. Obrigada por tudo mãe e por amar minhas qualidades e defeitos, e por nunca desistir de me fazer pessoa melhor.
Perdão mãe pelo silêncio que ainda restou. Pelo excesso que deixei escapar. Pelos erros que embora corrigidos por vc, cometi outras vezes. Pela imperfeição de meus atos., pela demora em reconhecer sua razão...
Obrigada por tudo. Muito obrigada. Os ensinamentos serão pra sempre...
É verdade que nunca parei pra imaginar como seria a vida sem vc. E noto que minha opinião, foi por todo sempre, tal como a do poeta, quando diz que a mães não deveriam morrer...
Pode ser que depois eu  entenda, mas agora o que eu mais queria era ter  vc de novo  ao meu lado. Sentar do seu lado. Pegar na sua mão. Te dar mil beijos, pentear seus cabelos. Rir com a senhora... chorar com a senhora... fazer tudo na certeza de que estaria na porta de casa, abrindo a porta, ou então na ponta da calçada vindo ao meu encontro...
Eu sei mãe. E vejo que a cada dia vai ser mais difícil sem ti.
E de onde a senhora estiver, antes que me aplauda como fazia para me incentivar, fico de pé, para aplaudi-la.
E fique com Deus minha mãe, que tua família, teus amigos, e todos aqueles que te admiravam ou ouviram falar de vc, ficarão aqui, rezando pela senhora. As lembranças estão vivas. E nunca vão morrer.

Te amo!!!

Um comentário:

Estrelinha disse...

Infelizmente é uma perda irreparavél, que nada no mundo poderá suprir
É por um espaço de tempo curto e numa dimensão diferente
O tempo escorre por entre os dedos e na realidade ele não existe a não ser pura e meramente invenção do homem
Quero que saiba que você tem uma irmã, não de sangue, mas de coração e procura estar sempre On Line em sua Vida, não apenas nessa, como nas que ainda virão e nas que já vieram , e que te ama muito e pra sempre, eternamente !
Beijos querida