quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Sabe mãe?

Não tem sido fácil, sabe, mãe? O emprego não é tão legal, as pessoas não são amáveis, as ruas não estão limpas, e vejo tão poucos arco-íris hoje em dia...
Não tô levando a vida saudável que eu sonhava levar, tô sentindo falta da escola, daquela segurança de ser alguma coisa, estudante, amalucada, rebelde, desorganizada, péssima aluna de matemática, o orgulho das humanas, sabe, tu até que tinha razão..
 
Não tô engajada em nenhum programa social, não tô trabalhando em algo que eu seja apaixonada, não tô lutando pelo que eu acredito, mas, no fim das contas, a vida é mesmo só sonhar em fazer tudo isso. Será?
Meu namorado não é o cara mais divertido, mas vá lá, eu nem tenho um namorado mesmo, e não tenho me importado, será que devo me importar, mamãe? Meu guarda roupa não é organizado, nem repleto de coisas que combinam comigo, ainda tô tentando descobrir o que é combinar, e decidir aonde eu junto isso com o "comigo".

Sabe, mãe, a gente não deita mais na tua cama, a gente não tem mais tempo de fazer nada, a gente nem mais consegue conversar em silêncio. A minha inocência tem ido embora, e por mais que eu tente teimar, e fazê-la ficar, ela se vai, eu não sou a mais teimosa, afinal.

Não tô conseguindo dar a atenção que eu queria pro meu cachorro - e não é que tu tinha razão nessa também? Eu sei, tu sempre tem. As minhas amigas não vivem aqui em casa, nem eu procuro muito elas, pensando bem, nem sei quais as amizades que eu cuidei direitinho, que eu tirei todas as ervas daninhas. Será que eu tenho me escondido, mãe?

Eu tenho perdido as palavras quando quero conversar contigo, a gente tem perdido tanto tempo, que eu não consigo mais nem perceber o que se passa enquanto penso no que já passou. Tenho sentindo tanta, tanta vontade de chorar, será que é manha? Será que é feio? Sei lá, tanta, tanta...

Eu tenho vontade de quebrar os relógios, trancar o portão, desistir da memória, e só chorar de rir do teu lado. Quero ir pra longe, sem me afastar de ti. Quero crescer, sem jamais deixar de ser a criança que deita no teu colo. Quero ser tanta coisa que já não me acho mais. Tu tem razão em tanta coisa... Mas errou quando disse que eu entenderia... Sabe, mãe? Eu não entendo, não... 

Assim como não entendo pra que vc se foi.... 

Nenhum comentário: