quarta-feira, 23 de abril de 2008

A noite veio e cobriu o que eu tinha pensado durante o dia com aquela tinta bem preta, que só ela tem. E eu, meio que sem querer, acabei esquecendo que quis brigar, que senti raiva e que fiquei frustrada por tantas coisas que pareciam ter sido importantes, mas que agora, eu tinha simplesmente esquecido porque não fazia mais sentido lembrar.
Meu travesseiro ainda tem o seu cheiro e eu entendo o porquê de tudo quando eu estou ali, abraçada a ele. É mágico.
De noite não tem barulho, a não ser o de alguém respirando mais fundo, meio perdida no que deseja, enquanto sonha cansada.
E eu não conseguia parar de pensar em como de dia a gente perde tempo com bobagens e de como a noite pode ser tão boa pra mim, sempre aqui, pensando em você.
De noite, na cama, eu sempre fico pensando...Eu perdi você aquele dia.
Os seus olhos marejaram de novo e, de novo, a culpa era minha.
Nossas madrugadas faziam barulho, mas agora era de tristeza.
Eu me escondia de você naquele choro.
Tantas coisas que eu queria dizer, mas só conseguia dizer besteiras.
Não disse que eu amava o seu cheiro, nem que não vivia mais sem suas risadas, não disse que daria a minha vida pelo peso do seu corpo no meu, ou só pra poder encostar pra sempre a cabeça no seu peito até eu conseguir dormir.
Naquela noite a gente se perdeu e a culpa foi minha.
Minha porque eu fugi de muita coisa e, chegando aqui, eu ainda continuei meio perdida.
Só que no final de todo pranto, você me dava um abraço.
E eu relutava porque sempre preciso chorar minhas lágrimas, mas também sempre acabo cedendo porque preciso mais ainda abraçar você.
Naquele dia você me encontrou de novo.
E encontrou em mim tantas coisas que eu tinha esquecido que existem porque fiquei com medo, de novo, de ser feliz.
Na verdade eu vou continuar fugindo e você sabe.
Eu vou correr pra todos os lados como uma borboleta que procura desesperada a luz, mas aí vou me dar conta que nossa vida é redonda e, aconteça o que acontecer, é você quem vai estar sempre no centro de tudo.
E eu, finalmente então, não vou voltar pra você porque, afinal de contas, eu jamais fui à lugar algum.Taí, e eu sei que não posso explicar.
Naquela noite você fez carinha de peixe, mas não foi de propósito. Parecia que sua boca tinha ficado azeda e você não podia mais estar ali, comigo.
E eu bem que tentei segurar suas mãos, mas elas fugiam.
De braços cruzados pra não mais procurar os meus. E foi assim que ficou, nem você comigo, nem eu com você. E acabou.
Mas como nossos mundos estão ligados com muito mais força do que nossas cabeças conseguem entender, e as diferenças estão lá, e a gente esperneia pelo mesmo motivo, sempre, quando os olhos se fecham, as lágrimas caem sem muita vontade, sem muita novidade.
Mas no final a gente desata os punhos e se olha, e aí ninguém mais quer ir à lugar nenhum. Acontece que as sensações se misturam e fica difícil dizer a verdade e a mentira.
O que a gente sente, a gente sente num segundo e só, depois passa, depois vira lembrança, depois pode ser qualquer outra coisa que a gente não estava e nem pensava em sentir.
É estranho, e é como se o meu cérebro dissesse pro meu corpo que eu não posso parar de sorrir, não pela próxima meia hora, obviamente não pelo resto do dia e, se eu quiser mesmo ser feliz, sorrir pelo resto do ano.
Essa coisa de forjar a alegria para, num passe de mágica, passar a ser alegre não me convence, mas como todo mundo que quer ser feliz ali mais pra frente, eu também consigo.
Eu consigo muitas coisas, eu digo muitas coisas, eu escrevo todas elas e divido os meus demônios com qualquer pessoa que precise de um pouco de tristeza pra enxergar melhor a sua própria alegria.
Eu escrevo poesia em segundas feiras chatas, invento cartas de amor com nomes que eu jamais ouvi, canto músicas o dia todo na minha cabeça, esperando que alguém as termine, hora dessas, por mim.
Eu passo pela escuridão e pelo claro num segundo, e aí me perco tentando juntar tudo o que eu vi, o que eu senti, o que eu sonhei e o que eu não disse pra então - e como poderia ser diferente? - contar tudo para alguém. Alguém, inclusive, que ainda não descobri se vai me ouvir. Você acha que me conhece bem, mas não.
A pessoa das histórias que você lê não sou eu e, embora eu me iluda acreditando também, até eu mesma sei. Eu só queria um pouco de silêncio, mas não consigo.
Aqui dentro é tanto mar que eu não preciso da concha nunca pra me lembrar de como seria.A bagunça da gente de dentro faz com que o de fora pareça mais perturbador ainda. Minha mãe sempre me disse que se eu deixasse meus armários bagunçados, nada que eu tentasse fazer daria certo.
Eu nunca acreditei nela e eu sempre tive tantas pessoas, e conversas, e situações pra arrumar na minha vida, mas eu não conseguia. Esses dias então, por estar longe ou estar grande, eu percebi: se eu não consigo organizar nem a fileira de camisetas, como vou poder organizar o que sinto, porque e por quem sinto?
Não dá. E assim foi. Agora eu arrumo sempre todos os meus armários.A verdade é que a solidão transformou tudo o que havia em minha volta e eu já não achava a razão para ali estar à não se sabe o que fazer.
A verdade é que as horas passavam erradas, eu estava no lugar errado, longe da verdade, longe da certeza, com muito mais medo do escuro do que eu costumava ter.
Mas pensava que se talvez conseguisse fechar os olhos com mais força, as horas correriam mais rápidas, a espera seria menos dura e os demônios da minha cabeça iriam embora. A verdade é que de tanto tentar, eu adormecia.
Nada do que eu diga explica, porque o que acontece é por dentro, onde as palavras são maiores e eu consigo ir além dos horizontes, pra entender as sensações.
Parece droga, mas é só euforia. É abraço, é beijo, é vida.
Nada do que eu diga explica o que existe quando eu fecho os olhos e só quem eu quero fica.
Só sei que no final do dia eu estou tão cansada que eu não quero ir pra onde a maré me carregar, ou pra onde o mundo girar, eu não quero que a vida me leve e, menos ainda, me perder no fluxo. Quando o céu apaga e meu dia escurece, eu sinto o cheiro do anoitecer e sei que estou indo pra casa.Enquanto eu faço força pra não errar meus acertos, a minha vida vai passando devagar e eu mal aproveito.
Os meus olhos têm suas tempestades eternas que precisam ser choradas pra encontrar a correnteza, e me levar daqui pro caminho mais certo.
É como se a leveza tivesse ficado e agora cada palavra tenha se tornado pesada demais porque pode ser definitiva.
Minha felicidade depende do sol, depende de muito mais poesia que existe em mim, mas eu não sei contar.
E a história está pela metade sempre, faltam palavras para acaba-la, eu ainda tenho tempo de arruinar meu livro, ou de transformar ele num best seller.
Falando em tempo, ele não tem muita força quando resolvemos falar de saudades e o espaço fica pequeno perto do que existe na gente.
Eu sei que parece bobagem, meio clichê, mas eu durmo mais feliz de lembrar que, ao menos aqui, eu não estou completamente sozinha, nunca.
Por hoje chega, vou ficar bem quietinha porque falar não tem mais graça... agora, o meu negócio é cantar - e bem baixinho pra ninguém ouvir.

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